quarta-feira, 9 de maio de 2012

Simfop 2012: doutores pedem mudança na educação


Os professores doutores em educação Celso dos Santos Vasconcellos e José Eustáquio Romão realizaram conferências na noite desta terça-feira (8/5), dentro da programação do Simpósio de Formação de Professores (Simfop), promovido pela Unisul. Ambos destacaram a necessidade de mudança no modelo de ensino adotado nas escolas e pediram ânimo aos professores.

No auditório do Espaço Integrado da Unisul, Celso Vasconcellos trouxe as discussões levantadas em seu último livro “Currículo: A atividade humana como princípio educativo”, que dá nome a palestra. Doutor em educação pela Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Liberdad - Centro de Pesquisa, Formação e Assessoria Pedagógica, sediado também na capital paulista, Vasconcellos iniciou sua fala se definindo como “um homem esperançoso”, porque, afinal de contas, acredita que é possível mudar a educação.

Para isso, o palestrante defendeu a necessidade de deixar o senso comum. “Muitas vezes, o professor trabalha sem fundamento e repete um modelo de educação que existe desde que ele frequentava a escola, sem fazer nenhuma reflexão. Faz mecanicamente o que sempre foi feito”, observou. De acordo com o especialista, essa mudança de percepção do educador é fundamental para melhorar a qualidade do ensino.

Vasconcellos também não poupou críticas à formação do professor. Na visão dele, é preciso desfazer uma ideia que acompanha a maioria dos pretensos educadores: a de que eles já sabem tudo sobre a prática. “Isso acontece porque eles já passaram muito tempo no ambiente de sala de aula, mas do outro lado, como alunos. Essa experiência anterior provoca uma falsa impressão de que não precisam aprender como se dá aula, porque já sabem, porque já viram alguém fazer isso a vida toda. Mas não é bem assim”. De acordo com o doutor, é preciso derrubar esse preconceito para que os acadêmicos aprendam, de fato, a ser professores.

Pela segunda vez em Tubarão – a primeira visita foi em 2007, também em palestra na Unisul -, Celso Vasconcellos repetiu o que tem feito em conferências por todo o país: pediu aos professores que resgatem o motivo maior da opção pelo magistério, o de educar. Ele ressaltou a importância de uma prática de ensino mais humana, em detrimento da educação feita a partir de um currículo meramente mecânico – vigente na maioria das salas de aula. “A sala de aula deve ser um lugar de aprendizado, e não de classificação. Tentam nos fazer acreditar que esse modelo de educação que está aí é o único possível. Mas não é”.

Por uma escola diferente
O educador Paulo Freire é reconhecido mundialmente como um dos mais notáveis pensadores da educação. Não há como falar em escola diferente sem mencionar seu nome. Por isso, o professor José Eustáquio Romão, doutor em História e em Administração Educacional pela USP, e um dos fundadores da Instituto Paulo Freire, veio ao Simfop 2012. Sua missão era reforçar a importância de Freire, destacando os pontos fundamentais de sua teoria. A conferência foi realizada na Sala de Pós-Graduação 8, Bloco Sede da Unisul campus Tubarão, também  na noite da última terça-feira (8/5).

Romão falou, entre outras coisas, sobre a teoria da “Inversão Freiriana”, segundo a qual a leitura de mundo precede a leitura da palavra. “A escola tem se dedicado a desenvolver a ciência. Quem desenvolve a consciência é a leitura do mundo, e é através dela que o aluno vai aprender”, argumentou. Ele defendeu, ainda, a importância do diálogo dentro da sala de aula. “Nós precisamos perceber o conhecimento que os alunos têm”, disse.

Amigo íntimo de Paulo Freire, José Eustáquio Romão contou algumas boas histórias durante sua fala. Entre elas, a da famosa experiência de Freire com camponeses no Rio Grande do Norte, ocorrida nos anos 60. Na ocasião, o educador alfabetizou, com sua equipe, 300 cortadores de cana em 45 dias, sem utilizar cartilha e em apenas 40 horas de aula. Foi ali que nasceu o Método Paulo Freire, proposta para alfabetização de adultos.

À época, a experiência chamou a atenção do presidente João Goulart, que aprovou a aplicação do método no Brasil e providenciou a criação de 20 mil Círculos de Cultura – na visão de Freire, os círculos deveriam substituir as escolas - por todo o país, a fim de executar o Plano Nacional de Alfabetização. Em 1964, entretanto, o golpe militar conteve a iniciativa.

A ideia básica de Freire, explorada por Romão durante a conferência, é de que é necessário “descolonizar as mentes”. Para ele, só dessa forma é possível conseguir a libertação e provocar uma mudança significativa no ensino brasileiro. “Precisamos ouvir o que o oprimido tem a nos dizer, porque, quando o oprimido se liberta, liberta também o opressor”, disse, em referência a um dos mais famosos livros de Paulo Freire, “Pedagogia do oprimido”, traduzido em 53 idiomas.

Romão destacou, dentro dessa mesma ideia, a necessidade de explorar outros conhecimentos e outras culturas. “Por que a educação está ruim? Porque estamos fazendo uma revolução paradgmática. Temos que ler outros autores, temos que ler autores indianos, autores africanos, autores brasileiros!”. Por fim, defendeu a utilização das ideias de Paulo Freire na prática das escolas. “O método de Freire faz sucesso onde foi posto em prática. Há experiências muito positivas. Temos que abandonar a cartilha neoliberal dos Estados Unidos e promover um ensino diferente. Essa revolução pode ser feita nas salas de aula, da porta pra dentro. Só depende de nós, professores”, finalizou.

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